segunda-feira, 30 de março de 2009

X ían e os Guerreiros de Terracota

Xían - por Ezequiel

Nossa ida a X’ian teve dois principais objetivos: conhecer uma cidade que foi por 4.000 anos a capital da China e o mais importante ponto de saída do oriente para a Rota da Seda, um caminho que ligava a China ao império romano no ocidente. O outro era visitar o museu onde se encontram as estátuas de terracota que formam o grande exército do imperador Quin Shi Huangdi. Ele foi um soberano despótico que unificou a China cerca de 200 A.C e tornou-se o primeiro imperador da dinastia Qin.

Nossa impressão sobre X’ian foi de espanto e surpresa! Uma cidade moderna e agitada com um comércio intenso, milhares de jovens trançando num frenesi pela rua principal de lojas de moda,e em contrapartida, a cidade tem uma grande muralha intacta, com 14 quilômetros de extensão cercando todo o centro da cidade e um grande Bairro mulçumano com sua mesquita gigantesca. É curioso a quantidade de chineses mulçumanos fazendo suas orações. Aquela cidade foi um ponto de encontro de várias religiões e o islamismo prevaleceu entre tantas crenças novas que tentaram se fixar em X’ian.
Naquela manhã decidimos que tomaríamos um ônibus circular comum para irmos até o museu, num percurso de aproximadamente 30 Km. Apesar das dificuldades do idioma aquela foi uma das tarefas mais fáceis de empreender, porque o ponto do ônibus ficava bem próximo a nosso hotel e foi só cruzarmos a muralha que envolve a cidade para ficarmos diante de uma grande confusão que era a estação de trem e rodoviária da cidade.
Naquele momento tivemos a impressão que nossa experiência de viagem independente pela China não seria um bicho de sete cabeças, sabíamos como encontrar um hotel, como nos alimentar e já era possível respirarmos aliviados quanto à nossa segurança, porque em nenhum momento sentimo-nos tolhidos no ir e vir e nem tínhamos a sensação de insegurança, – pelo contrário, estávamos totalmente e à vontade com a simpatia e cortesia dos chineses.

O sítio onde foram encontrados os Guerreiros de terracota fica fora da cidade de X´ian. O ônibus com destino ao Museu partia a cada meia hora, com ar condicionado e só admitia pessoas sentadas, o que foi um alívio depois de termos passado por uma experiência em um ônibus urbano, não pelo desconforto, mas pela maneira como funciona o trânsito na cidade... Uma coisa de maluco para nossos padrões ou até mesmo porque em Brasília não temos o hábito de andar em transportes públicos.

Nossa presença no ônibus, como de hábito, chamava a atenção de todos, porque, exceto alguns gatos pingados louros e de olhos azuis, éramos os únicos ocidentais morenos, diferentes do que os chineses estavam acostumados a encontrar.
Havia até uma rodomoça que arrastava um inglês e ficou encantada com o livro que tínhamos à mão. Uma publicação da Folha de São Paulo com muitas ilustrações, que ela demonstrava o maior interesse todas as vezes que passava por nós, que estávamos sentados na primeira fila de poltronas. Perguntei-lhe se gostaria de dar uma olhada nas fotos para demonstrar nossa simpatia e aproveitar para fazermos uma aproximação com alguém que poderia nos prestar alguma ajuda se fosse necessária, como de fato ocorreu.

Depois de folhear com intensa curiosidade o livro e ver detidamente as fotos sobre os guerreiros de terracota, ela nos informou que nunca tinha visto um livro com tanta ilustração e pela primeira vez viu tantas fotos sobre o exército de terracota, apesar de fazer diariamente o trajeto e o ponto final do seu ônibus ser exatamente em frente ao museu, nunca o havia visitado.Também nos disse que era a primeira vez que via um livro com tanta fotografia sobre a China e ficou muito agradecida por termos lhe mostrado aquele livro. Aquela revelação deu-nos a impressão de que ainda era um resquício das proibições do Partido Comunista quanto a leitura de algum livro diferente das publicações do regime. Aproveitamos o momento para tirar nossa dúvida quanto ao retorno à cidade que era para nós uma grande incógnita. Ela indicou-nos o local da nossa descida e onde poderíamos tomar o ônibus para a volta, o que nos trouxe uma grande tranqüilidade.

O calor naquele dia estava de cozinhar os miolos e depois de passar pela portaria do museu, deparamo-nos com quatro grandes construções, distantes uma das outras que deveríamos percorre a pé, mas estávamos lá para que?
O museu é um patrimônio da humanidade, pertence à UNESCO e está muito bem instalado, lembrando um pouco a Disney na entrada, e no interior, a organização é também primorosa e cuidada com muito esmero. Incluindo aí o ar condicionado central em cada galpão (trincheira) que nos fez esquecer o calor que existia do lado de fora. São três trincheiras e um salão de exposição. A trincheira número um, a mais importante delas, contém a infantaria com mais de 6.000 guerreiros prontos para o combate; na de número 2 fica a cavalaria e soldados e na terceira, ainda não totalmente escavada, fica o comando.

O trabalho de restauração requer um cuidado minucioso na junção dos fragmentos, um verdadeiro quebra cabeça gigante a ser montados com paciência de chinês e o mais curioso é que não existe uma imagem semelhante à outra o que nos leva a pensar que cada guerreiro daquela época foi modelo para uma escultura. O túmulo foi destruído por um exército invasor que teve informação da existência de outro exército entrincheirado para combate nas proximidades e assim, o túmulo do imperador com seu exército de terracota foi saqueado e incendiado.

No prédio do museu onde se encontra a famosa carruagem de bronze pode-se ver algumas imagens pintadas na cor original e depois da visita assistir um filme em 360° que mostra como se deu a construção e a destruição do Exército de Terracota.
A descoberta deste tesouro aconteceu em 1974, quando os camponeses da região escavavam um poço para abastecimento da aldeia.

Ainda restam escavações a serem feitas numa grande colina onde se acredita está enterrado o imperador. Há também a história de 48 túmulos de concubinas que foram enterradas vivas, assim como todos os operários que participaram da construção, tiveram o mesmo destino, para evitar a revelação da localização dos túmulos.

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