terça-feira, 12 de maio de 2009

Xangai - Cadê nosso hotel?!?!

24/junho/2008

Viajantes independentes passam por diferentes dificuldades, mas superá-las faz parte do roteiro e no final felizmente tudo dá certo. Elas ocorrem normalmente quando estamos viajando em regiões ou países onde a língua e o alfabeto não são nossos conhecidos, e os gestos passam a fazer parte de um código de comunicação universal. Assim, se a pessoa está com fome, sede ou sono e com dinheiro no bolso, a situação fica mais fácil de ser resolvida com os tais gestos, mas nada disso resolveu nosso primeiro desafio na chegada em Xangai, quando ficamos totalmente no mato sem cachorro.

Como nosso vôo pela AirChina saiu às 7:30hs de Xían para Xangai, deve ter sido o mais tranqüilo que já fizemos na vida, nenhum balanço do avião enquanto estávamos no ar, decolagem e pouso suaves. Aliás, viajamos em três companhias aéreas diferentes na China e todas com aviões novos e bom atendimento tanto em terra, quanto a bordo, superando todas as nossas expectativas.

Chegamos ao aeroporto de Xangai tinhamos um grande desafio: tentar alterar o sobrenome do Zico na passagem que emiti pela Shangai Air Line, via internet, com o meu sobrenome...Depois de Zico tentar convencer a garota do balcão e não obter sucesso, argumentei que se olho no olho não conseguíamos nos entender quem dirá por telefone com a empresa de turismo que emitiu a passagem, proposta que ela nos sugeria e que eu havia tentado por email e não deu certo,pois queriam que eu cancelasse e fizesse nova emissão,com multas e taxas adicionais. A garota entendeu meu apelo e, com pena de nós, pediu que esperássemos...Somente às 3 da tarde nos comunicou que conseguiu que fosse alterada, sem cancelar, o que evitou um custo de mais US$200,00, 25% do preço da passagem.Ufa!!!

Pegamos o ônibus n° 2 que nos deixou no terminal de passageiros do aeroporto no centro da cidade, depois de mais de uma hora de traslado. A distância era enorme e dava-nos a impressão de que aquele ônibus iria cruzar toda Xangai. Passamos por inúmeras avenidas, viadutos, ruas, prédios enormes de um lado e outro, trânsito pesado, mas tudo era novidade e nos encantávamos com as inúmeras construções! Finalmente o ônibus entrou num grande estacionamento sob um edifício, numa rua cheia de hotéis, numa região da antiga concessão francesa. Agora era só tomar um táxi até o hotel. Tudo muito simples e fácil!

Nosso mapa indicava que o Hotel Holiday In, onde ficaríamos hospedados nos dois primeiros dias, ficava no Bund (concessão inglesa e americana). Ele estava ali por perto, conforme havíamos visto no mapa. Normalmente, em qualquer lugar do mundo que receba turista de montão os taxistas falam alguma coisa em inglês. Sendo Xangai uma cidade internacional e pela sua história, deveriam falar alguma coisa de inglês, porque ela foi dividida em concessões no século 19 (inglesa, francesa, americana e japonesa) após a guerra da Inglaterra com a China. Era natural de se supor que o básico do inglês fosse conhecido.

Este tipo de pensamento foi um grande equívoco porque todos naquele pedaço da cidade só falavam chinês e quando tentávamos falar com algum taxista para tentar entabular algum diálogo ele falava alto, gesticulava e arrancava o carro, deixando-nos a ver navios, ou melhor, a traseira do táxi se afastando... Mostrávamos um mapa indicando o local do hotel, de nada adiantava porque não estava escrito em mandarim. A recusa para a corrida era sempre da mesma forma. Entramos e saímos de dois táxis, com bagagem e tudo. Nossa situação era patética, estávamos numa encruzilhada sem saber que rumo tomar, isto era literal. Parados no meio de um cruzamento com trânsito congestionado em todas as direções, as bagagens na mão também pesavam muito, apesar do rodízio das malas, e aguardando aquela guarda de trânsito conduzindo um cruzamento com seis pistas e administrando os sinais.

Fizemos uma abordagem infeliz àquela mulher, quando lhes mostramos o cartão e ela não deu a menor importância. Avistamos um carro de polícia parado do outro lado da rua , tentamos nos explicar com um policial que não falava inglês, que chamou alguém para ajudar, que também não falava, e que procurou um terceiro que falava muito mal e nos informou que o hotel era distante dali, e demonstrava com as mãos o que era uma distância pequena entre elas e afastava uma da outra para dar-nos a idéia de quanto estava longe o hotel e começamos a rir porque parecia o tamanho da trolha que nos aguardava.

Vendo que pouco adiantaria a informação da polícia e que Zico já tinha perdido o humor e estava ficando estressado, vi uma garota dentro de uma vídeolocadora onde trabalhava com seu pai. Mostrei o voucher do hotel, e pedi que ligasse para o hotel e nos ajudasse a pegar um táxi. A filha que entendia o básico de inglês serviu de intérprete para o pai que depois de um longo diálogo que me pareceu uma eternidade com alguém do hotel, em tons de voz alterados que me levavam a uma grande insegurança, que nos pareceram uma eternidade, para entender onde era a localização que alguém do outro lado da linha tentava explicar. Fiquei tão agradecida àquela garota miúda e tímida, que não exitei em tirar minha pulseira e dar-lhe de presente com um beijo na bochecha. A menina não entendeu nada e quase a matei de susto com minha reação!

O pai da garota chamou um táxi e explicou nosso drama e quando terminou toda a longa explicação, chamou o motorista e falou a palavra mágica, PUTU!!!. Eu imaginei que estava explicando meu estado emocional, mas pela expressão do motorista vi que não era isto e conforme nos explicou a moça da loja de vídeo, era o bairro onde ficava o hotel. Em seguida mostrou a direção a seguir, era a luz no final do túnel!
O percurso era longo. Tome de avenida, passa canal, outra avenida, viadutos, quando cruzamos uma ponte e o motorista, querendo ser simpático e para se justificar falava a todo instante que era PUTÚ, até que no meio do viaduto ele gritou triunfante PUTÚÚÚÚÚÚÚ! e apontou para a esquerda onde estava a placa do Holiday In.
Esta rede de hotéis é bastante conhecida no mundo e só depois de estarmos hospedados, relatando o ocorrido ao recepcionista, ele nos explicou que o hotel havia sido inaugurado há bem pouco tempo e por isso era ainda pouco conhecido dos taxistas e para evitar futuros embaraços, ele nos forneceu vários cartões com o endereço e mapa com a localização do hotel no PUTUO (nome correto do bairro para nós).

O prédio do hotel era uma construção moderna e ficava em frente a um rio, o Ribeirão Suzhou, afluente do Huangpu, que estavam sendo dragado e a murada nas laterais restauradas. Ao longo dele vários prédios modernos estavam em construção e parecia que todo o Putuo havia sido demolido para reconstrução e modernização de Xangai e nem os taxistas conheciam aquele novo bairro. O hotel fica a 35 minutos de taxi até o BUN e de metrô são 5 estaçoes até a universidade, pela linha verde e ainda tem de pegar um taxi até o hotel!

Estávamos tão exaustos da viagem e daquele sufoco para encontrar o hotel e regularizar a passagem. Optamos por relaxar e descansar aquele resto de tarde e à noite, para evitar qualquer contratempo que ainda poderia acontecer à noite.

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